quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

2º Período OS VALORES




Aquelas entidades a que chamamos “valores, estão presentes em todas as dimensões da nossa existência e podem assumir significados distintos: uma significação técnica (o valor de uma lei científica ou de um instrumento/ferramenta para a ampliação do conhecimento e resolução de problemas), uma significação afectiva (os valores que atribuímos a objectos, pessoas, locais, etc., que exprimem relações de estima /aproximação ou de rejeição/afastamento); um significado moral (quando apreciamos atitudes de lealdade, de coragem, ou quando condenamos comportamentos injustos, egoístas, ou desleais). Em suma, os valores são inseparáveis do nosso modo de agir e de pensar: funcionam como guias de acção.
O homem é um animal axiológico na medida em que é criador de valores, projecta-os na realidade (a partir das apreciações que faz, dos seres, objectos, pessoas e situações).

O QUE SÃO VALORES?


Os valores não são factos, não são acontecimentos, não assumem uma natureza física/concreta, material e visível mas têm, antes, uma natureza ideal. Os valores são Ideias/noções abstractas que nascem de uma relação valorativa (apreciativa ou depreciativa) entre o sujeito (sociedade) e a realidade.

VALORAR/VALORIZAR


Valorar, é o acto pelo qual atribuímos valores às coisas (sejam eles valores positivos, de agrado ou admiração ou negativos, de desagrado e rejeição); assim, valorar não é o mesmo que valorizar – uma vez que “valorizar” indica, necessariamente, uma valoração positiva.
Ex: Quando algo é desejável, ou merecedor de estima e admiração, atribuímos-lhe um valor positivo; neste caso a nossa valoração foi, simultaneamente, uma valorização. Inversamente, quando não reconhecemos esses atributos nos objectos, pessoas ou situações, atribuímos-lhes um valor negativo (neste caso, valorámos, mas não valorizámos essas realidades).

ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DOS VALORES


Idealidade: os valores são ideias, entidades abstractas (é essa a essência dos Valores).
Polaridade: os valores estruturam-se numa lógica de oposição (pólos opostos) havendo, para cada valor, o seu contrário: Belo/Feio; Saúde/Doença; Virtude/Vício, etc.
Historicidade: os valores sofrem alterações e flutuações (relativizam-se em função da época e do contexto sociocultural), reflectindo a sua ligação e enraizamento na História da humanidade.
Hierarquização: critério que traduz o facto dos valores serem suscepítveis de se organizar numa lógica de maior ou menor preferibilidade, dando origem a uma escala ou tábua de valores: cada sujeito, cada sociedade, hierarquiza os seus próprios valores segundo critérios de maior ou menor preferência e importância.
Absolutividade/relatividade: este aspecto encontra-se intimamente ligado à historicidade e à hierarquia dos valores. De facto, podemos considerar que há valores mais absolutos, objectivos e universais do que outros. Em regra, são os valores espirituais e éticos os que assumem um carácter mais absoluto e universal (exs: os valores consagrados nos Direitos Humanos, a Justiça, a Paz, a Liberdade, a Felicidade, etc). Porém, mesmo estes valores, podem relativizar‑se (sofrer mutações no seu significado) quando transpostos para épocas e contextos socioculturais distintos: a felicidade e a honra para o cidadão comum europeu, na Idade Média, não é equiparável aos mesmos valores para o cidadão comum da Europa contemporânea, tal como as noções de honra, virtude e coragem para um cidadão comum japonês, na actualidade, não são análogas às de um cidadão sul-americano.
Os valores materiais são os que assumem maior flutuação/diversidade sendo, por isso, muito relativos. Exs: os valores que traduzam sensações de agrado/desagrado e os valores relacionados com os bens de consumo são muito diferentes, de pessoa para pessoa e de sociedade para sociedade.


TEORIAS DO SUBJECTIVISMO E OBJECTIVISMO AXIOLÓGICO


Existem duas perspectivas opostas sobre a natureza dos valores:
- A concepção subjectivista destaca os factores que associam os valores a preferências e inclinações pessoais; assim, na óptica desta teoria, os valores são subjectivos e consequentemente, relativos porque inteiramente dependentes das percepções, sentimentos e apreciações de cada sujeito.
- A concepção Objectivista entende que os valores existem, independentemente do sujeito que avalia; esta concepção assume que há valores absolutos, de carácter imperativo e universal (impondo-se a toda a humanidade), ultrapassando critérios e sensibilidades subjectivas; logo, esses valores são autónomos e objectivos – independentes do sujeito e das circunstâncias. São exemplos desses valores, aqueles que assumem relevo para toda a humanidade, sendo consensualmente reconhecida a sua universalidade e intemporalidade: a Liberdade, a Justiça, a Felicidade, o Bem, etc.


CONCILIAÇÃO das TEORIAS (PERSPECTIVA CRÍTICA)


Haverá que reconhecer que no universo de valores ambas as teorias cometem exageros no que
respeita à sua perspectivação: de facto, é possível reconhecermos que existem valores mais absolutos, objectivos, universais e intemporais (de maior longevidade) do que outros e, consequentemente, não teremos dificuldade em aceitar a razão parcial da teoria do objectivismo axiológico quando consideramos valores que transcendem as nossas apreciações subjectivas (como é o caso dos valores de natureza espiritual e ética).
Não teremos igualmente dificuldade em aceitar que existem valores mais subjectivos, totalmente dependentes da óptica de cada sujeito e mais relativos do que outros, como sejam todos aqueles que estão directamente dependentes de juízos opinativos no que respeita a objectos, pessoas, situações, ou aqueles que estão directamente ligados a hábitos, costumes e modas de natureza sociocultural reconhecendo, também, a razão parcial da teoria subjectivista. São exemplos destes valores, aqueles que se ligam directamente ao plano material/concreto, como seja a valorização do exercício físico como critério de saúde, (mais comum na época actual do que noutras), determinados padrões de beleza (variáveis de sujeito para sujeito e de época para época), bem como os critérios de importância atribuídos por cada um de nós a factos, situações, comportamentos, etc.
Concluímos que ambas as teorias são portadoras de uma verdade relativa no que respeita à natureza dos valores, tendo ambas uma razão parcial mas não absoluta, no que respeita a esta matéria.

ACTIVIDADE FORMATIVA ( para estudo e treino da matéria)

TEXTO:

Faz parte da própria natureza dos valores, como qualidade ou predicado das coisas, não só a sua polaridade (belo/feio, por exemplo), como também o facto dos mesmos constituírem uma hierarquia: “os valores estão ordenados hierarquicamente, isto é, há valores inferiores e superiores. Os valores ocorrem numa ordem hierárquica; ao confrontar-se com valores, o homem prefere geralmente o superior, ainda que às vezes escolha o inferior por razões circunstanciais”
(FRONDIZI).

Os valores podem, é verdade, ser hierarquizados, mas esta hierarquização será sempre histórica, no sentido de ser inerente a pessoas ou comunidades. Algo que alguém considera mais valioso não é necessariamente algo que outras pessoas consideram mais valioso. Os valores são, portanto, em um certo sentido, sempre relativos. Por exemplo: aquilo que a família de um suicida geralmente considera mais valioso, a vida, não é aquilo que o próprio suicida considerava mais valioso. Aquilo que a maioria daqueles que defendem a legalização do aborto considera mais valioso, a liberdade de escolha, não é aquilo que aqueles que se opõem ao aborto consideram mais valioso, a vida. Se for possível estabelecermos uma hierarquia entre valores, esta hierarquia será, no entanto, pessoal (ou, na melhor das hipóteses, comunitária) e válida apenas para aquele a cuja estrutura mental pertence esta hierarquia. Ao contrário, de uma forma ou de outra, as normas e os deveres pretendem valer para todos, universalmente. Não haveria sentido num dever moral que não se pretendesse universal.
Marcelo Campos Galuppo


QUESTÕES:


1. Esclarece o significado da seguinte afirmação: “ a competência axiológica é uma função específica de um ser racional”.

2. Explicita a seguinte afirmação do texto: “Não haveria sentido num dever moral que não se pretendesse universal.”

3. Confronta essa afirmação com os pressupostos do Subjectivismo Axiológico.

4. Relaciona o relativismo dos valores com a hierarquia e historicidade.

5. Com base nos elementos de estudo fornecidos, justifica as seguintes afirmações:

a). “ O indeterminismo, tal como o determinismo radical são teorias incompatibilistas”.


b). “ A perspectiva de J. Searle é, simultaneamente, uma teoria monista e dualista, no que respeita à análise da problemática do livre arbítrio”.



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