Aquelas entidades a que chamamos “valores, estão presentes em todas as dimensões da nossa existência e podem assumir significados distintos: uma significação técnica (o valor de uma lei científica ou de um instrumento/ferramenta para a ampliação do conhecimento e resolução de problemas), uma significação afectiva (os valores que atribuímos a objectos, pessoas, locais, etc., que exprimem relações de estima /aproximação ou de rejeição/afastamento); um significado moral (quando apreciamos atitudes de lealdade, de coragem, ou quando condenamos comportamentos injustos, egoístas, ou desleais). Em suma, os valores são inseparáveis do nosso modo de agir e de pensar: funcionam como guias de acção.
O homem é um animal axiológico na medida em que é criador de valores, projecta-os na realidade (a partir das apreciações que faz, dos seres, objectos, pessoas e situações).
O QUE SÃO VALORES?
VALORAR/VALORIZAR
Ex: Quando algo é desejável, ou merecedor de estima e admiração, atribuímos-lhe um valor positivo; neste caso a nossa valoração foi, simultaneamente, uma valorização. Inversamente, quando não reconhecemos esses atributos nos objectos, pessoas ou situações, atribuímos-lhes um valor negativo (neste caso, valorámos, mas não valorizámos essas realidades).
ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DOS VALORES
Idealidade: os valores são ideias, entidades abstractas (é essa a essência dos Valores).
Polaridade: os valores estruturam-se numa lógica de oposição (pólos opostos) havendo, para cada valor, o seu contrário: Belo/Feio; Saúde/Doença; Virtude/Vício, etc.
Historicidade: os valores sofrem alterações e flutuações (relativizam-se em função da época e do contexto sociocultural), reflectindo a sua ligação e enraizamento na História da humanidade.
Hierarquização: critério que traduz o facto dos valores serem suscepítveis de se organizar numa lógica de maior ou menor preferibilidade, dando origem a uma escala ou tábua de valores: cada sujeito, cada sociedade, hierarquiza os seus próprios valores segundo critérios de maior ou menor preferência e importância.
Absolutividade/relatividade: este aspecto encontra-se intimamente ligado à historicidade e à hierarquia dos valores. De facto, podemos considerar que há valores mais absolutos, objectivos e universais do que outros. Em regra, são os valores espirituais e éticos os que assumem um carácter mais absoluto e universal (exs: os valores consagrados nos Direitos Humanos, a Justiça, a Paz, a Liberdade, a Felicidade, etc). Porém, mesmo estes valores, podem relativizar‑se (sofrer mutações no seu significado) quando transpostos para épocas e contextos socioculturais distintos: a felicidade e a honra para o cidadão comum europeu, na Idade Média, não é equiparável aos mesmos valores para o cidadão comum da Europa contemporânea, tal como as noções de honra, virtude e coragem para um cidadão comum japonês, na actualidade, não são análogas às de um cidadão sul-americano.
Os valores materiais são os que assumem maior flutuação/diversidade sendo, por isso, muito relativos. Exs: os valores que traduzam sensações de agrado/desagrado e os valores relacionados com os bens de consumo são muito diferentes, de pessoa para pessoa e de sociedade para sociedade.
TEORIAS DO SUBJECTIVISMO E OBJECTIVISMO AXIOLÓGICO
Existem duas perspectivas opostas sobre a natureza dos valores:
- A concepção subjectivista destaca os factores que associam os valores a preferências e inclinações pessoais; assim, na óptica desta teoria, os valores são subjectivos e consequentemente, relativos porque inteiramente dependentes das percepções, sentimentos e apreciações de cada sujeito.
- A concepção Objectivista entende que os valores existem, independentemente do sujeito que avalia; esta concepção assume que há valores absolutos, de carácter imperativo e universal (impondo-se a toda a humanidade), ultrapassando critérios e sensibilidades subjectivas; logo, esses valores são autónomos e objectivos – independentes do sujeito e das circunstâncias. São exemplos desses valores, aqueles que assumem relevo para toda a humanidade, sendo consensualmente reconhecida a sua universalidade e intemporalidade: a Liberdade, a Justiça, a Felicidade, o Bem, etc.
CONCILIAÇÃO das TEORIAS (PERSPECTIVA CRÍTICA)
Haverá que reconhecer que no universo de valores ambas as teorias cometem exageros no que
Não teremos igualmente dificuldade em aceitar que existem valores mais subjectivos, totalmente dependentes da óptica de cada sujeito e mais relativos do que outros, como sejam todos aqueles que estão directamente dependentes de juízos opinativos no que respeita a objectos, pessoas, situações, ou aqueles que estão directamente ligados a hábitos, costumes e modas de natureza sociocultural reconhecendo, também, a razão parcial da teoria subjectivista. São exemplos destes valores, aqueles que se ligam directamente ao plano material/concreto, como seja a valorização do exercício físico como critério de saúde, (mais comum na época actual do que noutras), determinados padrões de beleza (variáveis de sujeito para sujeito e de época para época), bem como os critérios de importância atribuídos por cada um de nós a factos, situações, comportamentos, etc.
Concluímos que ambas as teorias são portadoras de uma verdade relativa no que respeita à natureza dos valores, tendo ambas uma razão parcial mas não absoluta, no que respeita a esta matéria.
ACTIVIDADE FORMATIVA ( para estudo e treino da matéria)
TEXTO:
Faz parte da própria natureza dos valores, como qualidade ou predicado das coisas, não só a sua polaridade (belo/feio, por exemplo), como também o facto dos mesmos constituírem uma hierarquia: “os valores estão ordenados hierarquicamente, isto é, há valores inferiores e superiores. Os valores ocorrem numa ordem hierárquica; ao confrontar-se com valores, o homem prefere geralmente o superior, ainda que às vezes escolha o inferior por razões circunstanciais” (FRONDIZI).
Os valores podem, é verdade, ser hierarquizados, mas esta hierarquização será sempre histórica, no sentido de ser inerente a pessoas ou comunidades. Algo que alguém considera mais valioso não é necessariamente algo que outras pessoas consideram mais valioso. Os valores são, portanto, em um certo sentido, sempre relativos. Por exemplo: aquilo que a família de um suicida geralmente considera mais valioso, a vida, não é aquilo que o próprio suicida considerava mais valioso. Aquilo que a maioria daqueles que defendem a legalização do aborto considera mais valioso, a liberdade de escolha, não é aquilo que aqueles que se opõem ao aborto consideram mais valioso, a vida. Se for possível estabelecermos uma hierarquia entre valores, esta hierarquia será, no entanto, pessoal (ou, na melhor das hipóteses, comunitária) e válida apenas para aquele a cuja estrutura mental pertence esta hierarquia. Ao contrário, de uma forma ou de outra, as normas e os deveres pretendem valer para todos, universalmente. Não haveria sentido num dever moral que não se pretendesse universal.
Marcelo Campos Galuppo
QUESTÕES:
1. Esclarece o significado da seguinte afirmação: “ a competência axiológica é uma função específica de um ser racional”.
2. Explicita a seguinte afirmação do texto: “Não haveria sentido num dever moral que não se pretendesse universal.”
3. Confronta essa afirmação com os pressupostos do Subjectivismo Axiológico.
4. Relaciona o relativismo dos valores com a hierarquia e historicidade.
5. Com base nos elementos de estudo fornecidos, justifica as seguintes afirmações:
a). “ O indeterminismo, tal como o determinismo radical são teorias incompatibilistas”.
b). “ A perspectiva de J. Searle é, simultaneamente, uma teoria monista e dualista, no que respeita à análise da problemática do livre arbítrio”.
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