quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Proposta de abordagem da Actividade Diagnóstica 1

O que Somos? De onde viemos? Para onde caminhamos? O que podemos esperar? O que poderemos conhecer?

O texto refere-se a um acontecimento recente ( uma experiência arrojada e ambiciosa) que ocupa, actualmente e no decurso das próximas décadas, a comunidade científica.
Não se trata de apurar as causas de um fenómeno particular considerado isoladamente, trata-se, antes, de tentar penetrar um pouco no mistério que envolve as origens - o Grande Mistério da EXISTÊNCIA , a partir de um teste experimental que recriará as supostas variáveis inerentes a uma das teorias sobre a origem do Universo: a teoria do BIG BANG.
Esta aventura ambiciosa reforça os laços de proximidade entre a Filosofia e a Ciência; de facto, a teoria do Big Bang é, por enquanto, uma arrojada HIPÓTESE ( uma mera especulação, tão filosófica quanto científica) que revela a ambição de conhecer e a insatisfação da racionalidade humana.
Tal como os filósofos, desde a Antiguidade até hoje, os cientistas perseguem a Verdade. Ambas, Filosofia e Ciência procuram, através da colocação racional de problemas (hipóteses/ especulações) respostas que possam aproximar a humanidade do Sentido e Significado do REAL, vincando a diferença entre a Verdade e a Aparência, entre o Conhecimento e a opinião. Ambas (ciência e filosofia) são actividades racionais e anti-dogmáticas: desconfiam das "pseudo-verdades" que não se submetem ao exame crítico do raciocínio e da experiência. São ambas permanentemente críticas e insatisfeitas e procuram examinar os preconceitos e as opiniões correntes do conhecimento vulgar ( senso comum). Ciência e filosofia não se fazem a favor da opinião, mas contra a opinião - o conhecimento racional não é opinativo.
Porém, através desta experiência, os cientistas pretendem ir mais longe do que alguma vez foi possível: já não se trata de explicar um fenómeno próximo ( pela compreensão e apuramento das suas causas mais próximas), já não se trata de explicar como é que a Natureza funciona, na sua imensa diversidade, mas antes como é que se teria "comportado" o suposto Princípio que teria estado na ORIGEM de TUDO o QUE EXISTE: a Causa Primeira, a Causa de Todas as causas e verificá-la experimentalmente.
Os cientistas sempre se dedicaram à especulação (pois, tal como os filósofos, são criadores de teorias) mas diferem dos filósofos quando procuram a sua fundamentação pela PROVA Experimental. Os filósofos, pelo contrário, estão convictos que a Prova experimental não se aplica à resolução de todo o tipo de Problemas; as provas experimentais respondem, frequentemente, ao "COMO" é que os fenómenos funcionam, mas deixam sem resposta muitos dos seus fundamentos: os seus PORQUÊS. Neste sentido, a Filosofia é uma investigação mais RADICAL do que a ciência.
- Porque existem, com que finalidade? Quais as suas causas mais originárias? O que são as coisas em si mesmas? Estas são algumas das questões que alimentam a curiosidade filosófica.
A existir um clima originário de partículas que supostamente teriam estado na base de tudo o que existe, qual a CAUSA ou causas PRIMEIRAS/ ORIGINÁRIAS de tudo isso ?
Em que Tempo e Espaço? Em que plano de Existência? ( se o BIG BANG funciona como PRINCÍPIO FUNDADOR do próprio tempo e do próprio espaço?), como se geraram as condições para que esse fenómeno acontecesse? Que outras respostas poderiam explicar a HIPÓTESE radical que a teoria do Big Bang encerra? Tão radical quanto a hipótese da existência de um Deus criador?
Estas são algumas das interrogações filosóficas que se poderão colocar.
De facto, para cada solução que a Razão humana pode encontrar, surgem sempre novas interrogações, novos problemas: a FILOSOFIA é, antes de mais, uma actividade PROBLEMATIZADORA.
Ambas, Filosofia e Ciência procuram, com métodos e processos diferentes, o conhecimento.
Ambas são problematizadoras e interrogativas, mas a Filosofia insiste em colocar,desde sempre e fundamentalmente, todas aquelas questões de que a ciência nunca se ocupou ou que abandonou (questões residuais) ou daquelas que apelam para as causas primeiras e últimas: para os FUNDAMENTOS das coisas - nisso consiste a RADICALIDADE da Filosofia ( procura ir à raíz dos problemas).
A vocação da actividade científica é a de levantar problemas para encontrar respostas: necessita de apresentar resultados e de aplicá-los (quando isso é possível); não perde tempo com questões supostamente "inúteis", cujos factos/fenómenos não se podem submeter a testes experimentais, ou a qualquer outro tipo de PROVA.
A filosofia não se ocupa apenas dos problemas que podem ter soluções (experimentais ou outras) mas de todos aqueles que a RAZÃO humana é capaz de colocar. Um problema é sempre útil e legítimo desde que seja racionalmente colocado e contribua para o treino da inteligência, aperfeiçoamento da sensibilidade e aprofundamento do sentido crítico.
A filosofia procura tornar-nos com a sua investigação cada vez mais HUMANOS - cada vez mais conscientes de nós próprios e do mundo em que nos encontramos inseridos. É essa a nobre missão de todos os filósofos.
A todos os alunos que esperam, pacientemente ( e talvez com alguma ansiedade) o resultado do exercício diagnóstico, apelo a um pouco mais de paciência. É que o arranque do ano lectivo não tem sido fácil, com toda uma série de tarefas acumuladas.
Deixo, no entanto, esta proposta de comentário que servirá certamente para rever o essencial destas nossas primeiras aulas.

Ana Jorge disse...
Olá professora. Estive a ler a proposta de comentário e não pude deixar de comentar. É realmente uma síntese de tudo o que abordámos nas primeiras aulas. Ao lê-la, fui recordando tudo o que tinha sido falado/debatido em aula. Na minha opinião temos sorte que exista
‘a Filosofia’, que se encarrega das questões residuais e de outras, inúteis aos olhos da Ciência, mas importantes para o futuro da sociedade. Penso que o comentário está muito correcto e acessível aos alunos.
Obrigada, Ana Jorge, 10º A. 26 de Setembro de 2008 05:15
Ana , Duarte e Aissatu (Satu):
É essa uma das funções desta Plataforma de Comunicação; faço-a com todo o carinho e entusiasmo com e para os meus “companheiros” deste ano, como sempre fiz para todos os "alunos-companheiros” de gerações mais recuadas. Registo, com agrado, que já vai havendo alguns visitantes frequentes, entre os quais vocês.
Dos comentários que me enviaram, constatei que considerem úteis para o vosso estudo, os conteúdos que vou publicando; é essa, aliás, uma das finalidades desta ferramenta. Porém, não se esgota nisso pois desenvolveremos, através dela, outras vertentes para além do apoio ao estudo.
Como gestora do Blog terei organizar e moderar os comentários ( para que o conteúdo publicado não se multiplique em demasia, tornando-se denso e confuso para quem quiser usá-lo como meio de apoio ao estudo). Os comentários ficam sempre disponíveis para quem quiser abri-los, mas não poderei publicar todos, ou com a frequência que eu própria desejaria, pelas razões que acabei de expor.
Espero que compreendam.
Carolina e Ssatu: registo, com agrado, a frequência com que visitam o Blog e os vossos Comentários encorajam-me a continuar. ( Fico contente por acharem que é útil).
Nota: Ssatu! Vamos procurar escrever no português convencional.
Aqui ficam os vossos comentários:

Carolina disse...
Boa noite professora, No outro dia vim ver o blog, mas não consegui comentar. Achei uma ideia muito criativa, bem como educativa. Em relação à disciplina, desde logo me despertou curiosidade por saber o que era a filosofia. Mas afinal, não existe uma definição concreta nem uma vocação especializada, tem por objecto a totalidade do real. Gosto por isso mesmo, ou seja, de não se focar num só tema.Em relação a este post, está uma síntese muito boa, de todas estas aulas, pelo que será importante para o meu estudo.Obrigada,Carolina. 10ªA
28 de Setembro de 2008 12:06
satu disse...
Queria apenas felicitar a professora, por ter um blog tao actualizado e por ter o coidado de colocar todas as informções de que necessitamus.Este novo projecto de turma é muito interessante e tenho a certeza de que no final do ano iremus aprender que realmente "uma imagem pode valer mais do ue mil palvras!"
18 de Outubro de 2008 07:51


segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Breves ...

Àqueles alunos que já aderiram ao desafio de participar neste projecto (agora em construção) e de "espreitar" o projecto desenvolvido nos dois anos lectivos anteriores, quero deixar uma mensagem breve de reconhecimento e de estímulo para continuarem.
Este blog será mesmo uma plataforma privilegiada de trabalho e de comunicação entre nós.

Até Breve, Ana

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Comentário recuperado

Duarte disse:

"Sendo a Filosofia também uma disciplina que pretende responder a alguns perguntas, apesar de não ser essa a sua principal função e caso a proposta fosse para a frente, desejava que a docente de Filosofia do 10.ºA, fosse a coordenadora do projecto do Parlamento dos Jovens 2009, uma vez que alguns alunos dessa turma estão interessados em participar".


Fico honrada com o convite e prometo que a seu tempo falaremos
( em conjunto com a turma) sobre esse assunto.

Bom fim de semana !
Duarte, congratulo-me por teres sido o primeiro participante deste projecto.
Por lapso, exclui o teu comentário e só mais tarde consegui recuperá-lo e publicá-lo.



quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Módulo Inicial: Iniciação à Actividade Filosófica

Imagem do acelerador de partículas

O QUE É A FILOSOFIA ?
- Quais as questões da Filosofia?

Precisamente no passado dia 10 de Setembro de 2008 ( quase em coincidência com o arranque do ano lectivo), uma vasta equipa de cientistas ( físicos) puseram em andamento uma ambiciosa experiência: uma gigantesca máquina - um acelerador de partículas - tenta reproduzir o ambiente físico e químico do fenómeno cósmico originário vulgarmente designado por Big Bang.

Procuram, assim, reproduzir artificialmente o acontecimento natural que esteve na origem do Universo e conhecer um pouco melhor os seus mistérios, os enigmas que sempre inquietaram a humanidade e que ainda hoje (apesar dos inúmeros progressos da ciência), continuam a intrigar e a estimular o espírito de descoberta.

Todas as grandes descobertas se iniciaram com a colocação de problemas - e um dos problemas para o qual estes cientistas procuram respostas através desta experiência é, precisamente, tentar apurar a natureza de uma partícula - a partícula elementar ( a partícula originária) que alguns desses cientistas ( com bastante humor e humildade) já apelidaram de" a partícula divina".

Segundo as estimativas dos físicos que trabalham neste projecto, ele só começará a possibilitar algumas respostas no prazo mínimo de um ano de permanente trabalho e investigação e, mesmo assim, a humanidade nunca estará na posse das respostas fundamentais sobre a Origem do Universo, o seu sentido, as suas causas mais remotas, o seu destino ...

Sabemos hoje que o Universo é finito e se encontra em acelerada expansão; estamos longe de desvendar os seus inúmeros mistérios ocultos e, com eles, o próprio mistério do sentido da vida e em particular, do sentido da vida humana.

- Quem somos ? Qual o sentido da nossa existência e para onde caminhamos, são também algumas das interrogações (problemas) fundamentais da Filosofia desde que ela existe enquanto actividade racional e problematizadora e desde que se constituiu ( na Grécia antiga) como um saber organizado composto por inúmeras teorias criadas por filósofos (pensadores); estes primeiros sábios/intelectuais iniciaram a longa marcha do conhecimento de que os actuais cientistas são herdeiros, alimentando ainda hoje uma mesma chama: a luz que ilumina o espírito e combate as trevas.