sábado, 25 de outubro de 2008

Módulo II - Acção Humana e Valores


























" Penso, logo, EXISTO" / " Escolho, logo ajo, logo, SOU"



TEXTO DE APOIO AO ESTUDO e ACTIVIDADE FORMATIVA
Neste texto, procurarei abordar alguns dos aspectos que caracterizam a especificidade da Acção Humana, relativamente aos comportamentos de outras espécies.
Aquilo que separa o comportamento humano das condutas dos animais, só se pode compreender pela análise da complexa relação do homem com o Mundo. O mundo é assumido como o Plano de Realização das Acções - o mundo é o “palco” onde o sujeito
(agente das acções) desenvolve relações múltiplas, realizando-se como ser biológico e socio-cultural. Deste modo, as acções humanas envolvem, sempre, uma tripla dimensão: o agir biológico/natural; o agir histórico e socio-cultural e uma dimensão temporal, composta pelo passado, pelo presente e pelo futuro.
Na primeira dimensão (na dimensão natural físico - biológica), os comportamentos do homem não diferem, substancialmente, dos comportamentos das restantes espécies: tratam-se de condutas associadas à satisfação das necessidades básicas, à sobrevivência individual e à continuidade da espécie: são “acções” fixadas pela própria natureza – comportamentos instintivos, rígidos, automáticos, transmitidos genética e biologicamente, sem alterações significativas, (repetidos ao longo da existência da própria espécie). Porém, é no domínio das outras dimensões (histórica, socio-cultural, psicológica e temporal), que o homem adquire a sua verdadeira natureza e se afasta das condutas dos restantes seres vivos.
Os comportamentos sociais que regulam as relações humanas são muito mais complexos e sofrem evoluções muito mais profundas e rápidas do que os comportamentos sociais das restantes espécies (incluindo as mais dotadas do ponto de vista da inteligência, como é o caso dos primatas: símios em geral, chimpanzés, bonobos, gorilas, etc.) porque, no caso humano, temos sempre que contar com um factor incontornável: a LIBERDADE – o exercício de escolhas conscientes: o livre arbítrio.
Assim, mesmo no domínio do simples agir físico e biológico – (acções associadas à sobrevivência) se verifica que o homem não as realiza com a rigidez e os automatismos com que as outras espécies o fazem; todos sabemos, por exemplo, que o simples acto de comer está, na espécie humana, condicionado a hábitos sociais e culturais ( na Ásia não se come como na Europa ou na África); o próprio ritual das refeições diárias é acompanhado de factores de grande complexidade em todo o mundo: a confecção das refeições (culinária) o pôr da mesa, os pratos, o uso dos talheres, as regras básicas de higiene, etc. etc., para não falar da complexidade e diversidade associada aos comportamentos sexuais na espécie humana, que assumem influências sociais históricas e culturais muito fortes.
Em suma, todos os comportamentos do Homem – até mesmo aqueles que aparentemente seriam puramente biológicos/naturais, (instintivos) nunca o são somente! São marcados pela racionalidade (o homem controla as suas acções pelo raciocínio e pela vontade – livre arbítrio) e isso reflecte-se em todo o tipo de acções, sejam elas do domínio biológico/psicológico ou dos domínio social e cultural.
As acções humanas não têm por objectivo prioritário, contrariamente aos comportamentos dos animais, assegurar a continuidade da espécie, mas CONSTRUIR UM PROJECTO DE VIDA – UM PROJECTO DE EXISTÊNCIA – que depende da noção de temporalidade, isto é, da consciência (que só o homem possui) de que a sua vida se desenvolve nos planos do passado, do presente e do futuro sendo, ao mesmo tempo, o único animal que vive com a consciência da sua própria finitude: o homem constrói a sua vida, sabendo que um dia irá morrer – essa noção consciente e ritualizada* da mortalidade, não acompanha a vida de mais nenhuma outra espécie.
Assim, as acções humanas são, sempre, comportamentos orientados pela racionalidade pela consciência e pela vontade; dirigem-se sempre à construção de um projecto de vida (seja ele qual for) e, por isso são acções conscientes, intencionais e voluntárias (implicam escolhas e responsabilidade por essas escolhas). Por isso, o agir humano não é, apenas, o gesto físico, os movimentos e as diferentes práticas da vida quotidiana, mas envolve acções de uma outra natureza como o PENSAMENTO e a LINGUAGEM – que são comportamentos únicos (específicos) de um ser racional.

* ritualizada - porque desde os tempos mais remotos (primitivos), o Homem é a única espécie que realiza o Culto da Morte ( desde os mais sofisticados e complexos rituais antigos – como o dos Egípcios, até aos meetings sociais e amorfos dos funerais da actualidade no mundo ocidental).


Ana Carrasquinho

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