segunda-feira, 2 de março de 2009

Auxiliares de estudo: 4º teste (Março)


















Para as éticas racionais (como, por exemplo, a ética kantiana):

O valor moral de uma acção reside na sua forma/intenção; nos princípios que orientam a vontade. Esses princípios recebem o nome de máximas.

Uma máxima é uma regra auto-imposta: um princípio subjectivo da acção.


A ética kantiana é uma teoria racional/formal porque privilegia a forma ou intenção das acções,independentemente das suas consequências materiais ou da sua utilidade.
agir bem, é agir orientado por uma vontade boa ( por puro respeito ao dever) reconhecido como imperativo ou mandamento da consciência: esta ética é uma teoria do dever/deontológica.

A vontade boa é uma vontade autónoma - que reconhece o dever, como lei moral e universal , alheando-se dos interesses e inclinações heterónomas ( ligados à experiência/ vivência / às necessidades materiais e às suas consequências).
Esta teoria é representante de um formalismo axiológico.

" Age por puro respeito ao dever, ainda que isso te prejudique, ou que não retires dessa acção qualquer benefício material".

O VALOR SUPREMO DA MORALIDADE NA ÉTICA KANTIANA É A DIGNIDADE.
INVERSAMENTE, PARA AS ÉTICAS MATERIAIS ( nomeadamente para a de Stuart Mill) O VALOR SUPREMO DA MORALIDADE É A FELICIDADE.

Para a ética material utilitarista/consequencialista de Stuart Mill:


O valor moral de uma acção depende dos seus fins/finalidades e das suas consequências: associa a moralidade à utilidade das acções - aos seus efeitos práticos; por isso entende que a moralidade implica adaptar as acções às circunstâncias e às necessidades de cada momento (Relativismo axiológico) desde que as suas consequências se dirijam à felicidade da maioria e à utilidade.

Esta teoria é representativa de uma ética material ( porque não se abstrai das condições da experiência/vivência; é teleológica ( porque avalia a moralidade das acções em função dos seus fins; ("telos" = " fim"). É ,ainda, uma teoria consequencialista porque as avalia em função das suas consequências/resultados.

Agir bem (na óptica desta teoria), é adequar as acções às circunstâncias materiais em que estas se realizam e aos efeitos que têm: " uma acção é boa/útil quando contribui para a felicidade do maior número de pessoas". Nesta ética o princípio da utilidade é o princípio da maior felicidade , entendida como a obtenção do bem-estar, do prazer. Por esta razão a teoria de S. Mill representa também um modelo hedonista ( do grego hedonê = prazer).

O valor supremo da ética utilitarista/consequencialista de S. Mill é a felicidade - o bem-estar da maioria, mesmo que cada ser humano ( ou as minorias) possam ser tomados como meios para atingir esse fim.

As 3 Disposições da vontade e as características do Imperativo Categórico na teoria de Kant:

Agir moralmente (virtuosamente) implica, com frequência, a ultrapassagem de conflitos inerentes à nossa natureza. O homem é composto por diferentes tendências ou inclinações que arrastam a vontade para a satisfação de necessidades, interesses e desejos muito diferentes e até, incompatíveis/opostos, o que determina a realização de escolhas:

a). Enquanto animal (estrutura orgânica e biológica) - a vontade humana é arrastada para a satisfação de instintos/necessidades primárias ( físicas/orgânicas e psicológicas), como a necessidade de alimento, de afecto, o impulso sexual, etc. Nisto consiste a tendência que Kant designa por "disposição para a animalidade". Esta disposição está associada à satisfação de necessidades e interesses - a vontade é heterónoma não assumindo significado moral.

b). Enquanto ser social (cidadão integrado numa sociedade) - a vontade dirige-se para a satisfação de necessidades relacionadas com os desafios sociais, com a integração e aceitação do indivíduo num contexto regido por normas, regras, padrões de conduta e pelo funcionamento das instituições: família, escola, mundo do trabalho, etc .Esta é a "disposição para a humanidade" - a vontade é heterónoma; também não assume significado moral.

c). Enquanto pessoa/entidade moral - a vontade é orientada por valores e princípios que o aproximam do seu próprio aperfeiçoamento ético: o sujeito dirige-se para a aquisição da sua própria dignidade e consistência de carácter, quando AGE por DEVER, (apenas por puro respeito ao dever/ desinteressadamente); esta é a "disposição para a personalidade - ou disposição para a moralidade" - única tendência que assume valor moral uma vez que é orientada por uma vontade autónoma/vontade boa (independente de necessidades ou interesses circunstanciais).

O IMPERATIVO CATEGÓRICO:

O imperativo categórico é a representação do dever na consciência do sujeito e exprime o carácter normativo (auto-imposto) da Lei moral.



Pode apresentar-se em diferentes formulações:


Ex: 1

" age apenas segundo uma máxima tal que possas, ao mesmo tempo, querer que ela se torne lei universal".

Ex: 2

" age sempre de maneira a tratar a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, como fim e nunca simplesmente como meio".

- Qualquer que seja a formulação do imperativo categórico ele representa, na consciência, o significado e o alcance da moral Kantiana: o valor supremo da moralidade é a dignidade e o mandamento expresso pelo imperativo, aponta para o respeito e preservação da dignidade própria e da dignidade do outro, como dever e carácter do homem virtuoso.

Características:


É um imperativo: é um mandamento (uma ordem) absoluto da consciência.

É normativo: manifesta-se como lei moral.



É a priori: princípio da Razão ( independente da experiência).



É categórico: É incondicional ( não é hipotético); impõe uma regra, excluíndo da moralidade outras hipóteses de acção - a moralidade traduz-se, apenas, nas acções por dever ( as que resultam de uma vontade autónoma).

É universal: o reconhecimento do dever, como regra da moralidade, é aplicável a toda a humanidade independentemente da sua concretização no plano das acções; a ética aponta para o plano ideal ( o plano do que deve acontecer) e não , para o plano do que acontece (plano factual).

ESCLARECIMENTO de DÚVIDAS:

Patrícia:

Apesar de teres colocado uma dúvida que, nesta altura do "campeonato," já não tem nenhuma razão substancial para existir ( uma vez que esse conceito - "empírico" tem sido integrado e esclarecido em, praticamente, todos os conteúdos programáticos trabalhados desde o início do ano ( na Acção, nos Valores, etc.), aqui vai um breve esclarecimento e algumas sugestões: um estudo mais atento de todos os elementos de apoio incluíndo o Manual e a simples consulta de um dicionário de Filosofia, resolveria dúvidas deste género.

- " Empírico" - em qualquer contexto, refere-se ao que é dependente da experiência ( e, portanto, a posteriori) ; por exemplo, a maior parte das noções/conceitos das ciências da natureza têm uma origem empírica, isto é, começam por ser formados a partir da sensibilidade, através da observação dos fenómenos. O mesmo não acontece com as noções das ciências racionais ( como é o caso da Geometria, da Lógica e da Matemática - que não vão "buscar" à experiência as noções sobre as quais operam). Os princípios da Ética Kantiana - são a priori ( isto é, Racionais: independentes e anteriores à experiência - são princípios da Razão). Nem todo o conhecimento tem a sua origem na experiência ( nem todo o conhecimento é empírico).

Espero que tenhas ficado mais esclarecida.

Bjs. e Bom Estudo!

Duarte:

Respondendo muito sinteticamente às duas questões colocadas:

As teorias utilitaristas (como todas as teorias), são sistemas de pensamento que nunca pretendem responder ou confinar-se a um só problema: a teoria de Stuart Mill, até pela sua contextualização histórica, reflecte os problemas do seu tempo - entre os quais, os direitos humanos e a abolição da escravatura. Todas as filosofias têm uma ligação à história (historicidade) e, por isso, não se desenraizam dos problemas da época em que surgem. Porém, o utilitarismo de Mill não esgota o seu sentido ( como teoria) apenas nessas questões, como será lógico concluír.

Quanto ao hedonismo - é uma perspectiva da existência ( e da ética em particular) - que assume a Felicidade/ o Prazer como valor supremo da moralidade ( e da vida). Esta perspectiva teve a sua origem no pensamento clássico grego - e é retomada pelo utilitarismo dos sécs. XVIII-XIX.

Tudo isto foi, também, objecto de explicação nas aulas e um estudo mais atento de todos os elementos indicados ajudar-te-á a superar dúvidas deste tipo.

Marta:

Todos os juízos expressam-se sempre sob a forma de uma proposição ( uma frase declarativa, afirmativa ou negativa); os juízos morais não constituem excepção: expressam-se sob a forma de proposições. No entanto, os juízos morais aplicam-se às acções (aos comportamentos) diferindo de outros juízos de valor, que se podem aplicar também a objectos ou outras realidades. Para emitirmos um juízo moral sobre um comportamento/acção, partimos sempre de um padrão ou critério valorativo (nosso ou com o qual concordemos). É neste aspecto que os juízos morais se contextualizam na matéria:

- Por exemplo, se analisarmos o acto de mentir segundo o padrão da ética de Kant, será sempre um comportamento condenável. Se, no entanto, o analisarmos segundo o critério das éticas utilitaristas esse mesmo acto "mentir" poderá assumir um valor moral e até poderemos emitir juízos morais favoráveis a esse acto se os seus efeitos ou consequências forem benéficos (em prol de alguém ou a favor de uma boa causa).


4 comentários:

Patrícia disse...

Patrícia (10º C)

Boa tarde professora. Na aula anterior, a de segunda feira, a professora utilizou o termo "empírica", e com o decorrer da aula fiquei sem perceber o seu significado e o seu contexto na matéria que estamos a dar. Será que me pode explicar ?
Obrigada.

Dupé disse...

Olá stora.
Após leitura da ficha de apoio que distribuiu acerca da caracterização genérica das duas teorias éticas, surgiu-me uma dúvida:
A teoria de S. Mill contribuiu paea a igualdade entre géneros, abolição da escravatura, etc.; Mais à frente lê-se que intervêem na sua modificação. Poder-se-á dizer que se não existisse esses "problemas" a teoria de S. Mill não farian sentido?

Dupé disse...

Um outra dúvida:
qual é o fundamento utiliado para caracterizar a teoria de Stuart Mill como uma ética hedonista? A felicidade contribui para a hedonização?

Martha disse...

Olá professora. Enquanto estudava ocorreu-me uma dúvida.
Afinal, o que são juizos morais? Não percebi bem o seu significado e como se inserem na matéria...