quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Proposta de Abordagem da Actividade Formativa de Grupo: Especificidade da Acção Humana

" O Homem é um ser inacabado e em permanente auto-construção.
Nunca lhe bastou o que a Natureza lhe deu".

Questões:

1. Caracterizem, nos seus traços fundamentais, a especificidade da Acção Humana.
2. Traduzam a tese do texto, no que se refere aos comportamentos fisico-biológicos (naturais /instintivos) na espécie humana, comparativamente às restantes espécies.
3. Exprimam o que se entende por “ livre arbítrio”.
4. Esclareçam o papel da temporalidade nos comportamentos humanos.
5. Relacionem as afirmações anexas à gravura, com a seguinte frase: “ o homem constrói-se a partir das escolhas que realiza”.




1.
• As acções humanas são os únicos comportamentos orientados e dirigidos pela racionalidade associada à vontade (exercício da liberdade). Este facto determina que embora a conduta humana seja livre, a liberdade não deve ser entendida como absoluta ou isenta de obstáculos e limites que a condicionam; (estes obstáculos/limites são vulgarmente designados por “condicionantes da acção”).
São os únicos comportamentos que se desenvolvem, simultaneamente, em 3 dimensões: a dimensão biológica/fisiológica, a dimensão social e a dimensão cultural. Estas dimensões, que são inseparáveis, contribuem para a estruturação de uma dimensão psicológica, que se reflecte na identidade de cada sujeito, na construção de uma personalidade individual, responsável pela enorme diversidade dos comportamentos humanos.
• Assumem uma complexidade não equiparável aos comportamentos das outras espécies, uma vez que estes se centram, exclusivamente, na satisfação de necessidades básicas instintivas (do foro biológico/fisiológico) geneticamente programadas e transmitidas que visam, basicamente, garantir a sobrevivência individual e a continuidade da espécie.
As acções humanas dirigem-se à construção de um PROJECTO de VIDA que implica:
- uma consciência de si ( do sujeito, como agente da acção).
- uma consciência do tempo (passado, presente e futuro) e das metas a atingir.
- O domínio de uma função simbólica e reflexiva, exclusiva da espécie humana e construtora de significações, que passa pela aquisição e uso da linguagem (essencial nos processos de produção/aquisição e transmissão de conhecimentos, de relação com o mundo e de socialização)
.



2. (TESE do TEXTO): Na óptica do texto não existem, na espécie humana, comportamentos puramente biológicos/naturais/instintivos.
(ARGUMENTOS): mesmo aquelas condutas aparentemente mais instintivas, como o impulso de sobrevivência, o impulso sexual e outros, são, na espécie humana, muito mais complexos do que nas restantes espécies. Na espécie humana estes impulsos são condicionados e moldados por factores psicológicos, sociais, culturais e pelas escolhas consciente e voluntariamente assumidas pelo sujeito. Se assim não fosse, não se entenderia que o homem seja a única espécie capaz de abdicar da sua vida em prol de causas e valores, implementar formas de protesto radicais como, por exemplo, iniciar uma greve de fome e levá-la a limite (até à morte), ou assumir práticas e rituais de sexualidade tão diferenciadas e moldadas social e culturalmente. Nas outras espécies a sexualidade é fixada exclusivamente por padrões biológicos, genéticos, sendo os comportamentos e os rituais reprodutivos invariáveis e rígidos dentro da mesma espécie o que permite definir, a esse nível, comportamentos padrão; na espécie humana essa uniformidade e rigidez seria impensável. A sexualidade humana é condicionada por variadíssimos factores (além dos biológicos), como a educação e a personalidade do sujeito, a sociedade e a cultura em que se insere, etc.

3. O livre arbítrio traduz-se na capacidade específica de um ser racional para decidir e agir livremente, isto é, de acordo com opções consciente e voluntariamente assumidas. (Nas inúmeras possibilidades e obstáculos que se apresentam, o agente da acção é o árbitro das suas realizações: é ele quem decide e se o fizer no pleno uso da sua liberdade é ele, também, o único responsável pelas suas escolhas e comportamentos).

4. Sendo a temporalidade uma noção consciente do tempo, tal consciência é determinante para a compreensão da acção humana como realização de um projecto de vida: sem essa consciência permanente, a existência humana não faria qualquer sentido, já que cada sujeito desenvolve a sua vida no presente, tendo em conta as memórias e experiências do passado e, em função disso, perspectiva e planeia o futuro. A consciência da sua finitude como facto incontornável, transforma o futuro num plano de auto-realização e construção de um projecto de vida. O homem é a única espécie que interioriza e conceptualiza muito precocemente, a sua mortalidade.

5. (Relacionando as afirmações): Se é o pensamento que me confere a noção da minha própria existência (e da existência do Mundo como plano de realizações) são as minhas escolhas que determinam o sentido e a execução das minhas acções. Assim, tudo o que EU SOU, (para além da minha estrutura biológica e geneticamente herdada), foi construído na relação entre o meu pensamento, as minhas escolhas e as minhas acções.

Um comentário:

Dupé disse...

Agradeço a colocação da proposta de abordagem, fiquei esclarecido, quanto a várias dúvidas que tinha.